Podem ser tardias as palavras, mas depois de um certo tempo pensando, resolvi escrever sobre o ìdolo do Rock Nacional que o Brasil perdeu na semana passada: Chorão.
Foram tantas críticas e homenagens despejadas na mídia após o acontecimento que respirei e tentei olhar pelo lado do próprio cantor.
Chorão teve uma vida de lutas e glórias como sua letra mesmo diz. Em entrevista ao fantástico neste último domingo (10/03/13) seu filho declarou que ele era autobiográfico.
Diante das palavras emocionadas de sua ex mulher e seu filho me veio a reflexão.
Dizem que nossa boca diz aquilo que nosso coração está cheio. Eu me perguntava por que os melhores poetas do mundo musical morreram de overdose, aids, suicídio, enfim, de vidas que precisavam urgentemente ser preenchidas de algo e não foram, motivos pessoais que os levaram a se apegar à bohemia mundana e substâncias químicas que suprissem a necessidade de algo mais.
Em momento algum vou declarar qualquer crítica, pois apesar de todos sabermos o efeito nocivo de certas substâncias em nossas vidas e nosso organismo, cada um sabe o que os leva a tomar suas decisões, sejam elas boas ou ruins.
O que me intriga é que palavras tão bonitas sairam daqueles que mais se sentiam sozinhos.
A solidão muitas vezes nos revela talentos incríveis, mas não desenvolve a felicidade de ninguém.
Muita gente deve pensar: Ele tinha família, filho, mulher, amigos e milhares de fãs que o amavam, mesmo assim reclamava que a gente nasce sozinho e morre sozinho. Escrevia sobre a fé, confiança, saudade, amor, vida e pensamento positivo.
Já reparou como nem sempre a gente diz o que o coração está cheio?
Muitas e muitas vezes estamos vazios, estamos carentes de alguma coisa e nada preenche isto. Mesmo assim não perdemos a habilidade de pensar positivo ou escrever coisas que levem boas vibrações aonde forem.
Chorão pode ter lutado contra o mundo, lutado contra as drogas, lutado contra si, ninguém sabe sobre suas batalhas internas. O que sabemos é superficial. O contato e o carinho que seus admiradores tiveram com ele foi superficial.
São poucas as pessoas que tocam a nossa alma e muitas vezes aqueles que estão mais próximos de nós não percebe no que estamos mais frágeis e desperdiçam a chance que tem de nos salvar.
Há pessoas que aparentemente tem tudo para ser feliz, mas precisam ser salvos, precisam ser olhados mais devagar. A correria hoje em dia não nos permite tamanha preocupação com aqueles a quem dizemos amar.
Mesmo amando não temos tempo de perguntar como foi o dia ou se a pessoa está realmente feliz.
O que podemos fazer a respeito? As vezes muito, as vezes nada.
Não alego que seus afetos foram negligentes, mas será?
Penso porque observo o dia a dia de pessoas que sequer são famosos e vejo a pressa por trás de todos os relacionamentos, por trás de todas as atitudes.
A gente sente carência de atenção, de cuidado, de profundidade.
Não nos acostumamos com a rapidez dos contatos e acabamos por mergulhar em recursos alternativos que nos desligam ou ligam de forma que conseguimos acompanhar o ritmo que a vida nos cobra.
Mas a dependência de tudo, inclusive de pessoas, é algo que um dia fará você consumir uma dose tão grande que não mais te preencherá, te desligará de vez.
"Só os loucos sabem!"
Só quero dizer ao Grande Poeta, que não verá mais, que suas palavras podem ser usadas para o bem. Que suas melodias podem ser citadas como um grito de socorro para quem conhece as letras.
"Fica comigo então, não me abandona não,
Alguém te perguntou como é que foi seu dia?
Uma palavra amiga, uma noticia boa,
Isso faz falta no dia a dia,
A gente nunca sabe quem são essas pessoas..."
"Que mundo é esse que ninguém entende um sonho?
Que mundo é esse que ninguém sabe mais amar?"
Penso que mesmo a vida sendo tão efêmera, cada segundo vivido por pessoas que nos deixaram tamanha bagagem poética e musical valeu a pena. Isto, independe de suas escolhas, independe do fato de naquele momento eles terem se visto sozinhos. Não estavam. No mundo afora cada um desses artistas que tocaram os corações de seus fãs faziam parte da vida de alguém. Em cada parte que passaram e fizeram shows repletos de gente que gritava e chorava por eles, deixaram uma marca. E essa marca vai se frutificar na eterna lição de suas melodias que continuarão sendo cantadas.
Assim como Renato Russo; Cássia Eller; Cazuza; Raus Seixas; Mamonas Assassinas (que tiveram pouco tempo, mas ainda são lembrados); Bob Marley; Elvis Presley entre outros que se foram cedo demais, mas que ficaram eternizados pelas frases, letras e pensamentos guardados nos corações daqueles que se identificaram e se encantaram com o que estas grandes personalidades nos deixaram.
Van Gonzaaga