5 de fevereiro de 2013


 
 
 
"Possuo, no entanto, um cemitério meu, pessoal, eu... o construí e inaugurei há alguns anos quando a vida me amadureceu o sentimento. Nele enterro aqueles que matei, ou seja, aqueles que para mim deixaram de existir, morreram: os que um dia tiveram minha estima e a perderam.Quando um tipo vai além de todas as medidas e de fato me ofende, já com ele não me aborreço, não fico enojado ou furioso, não corto relações, não lhe nego o cumprimento. Enterro-o na vala comum de meu cemitério- nele não existem jazigos de família, túmulos individuais, os mortos jazem em cova rasa, na promiscuidade da salafrarice, do mau caráter. Para mim o fulano morreu, foi enterrado, faça o que faça, já não pode me magoar. Raros enterros - ainda bem!- de um pérfido, de um perjuro, de um desleal, de alguém que faltou a amizade, traiu o amor, foi por demais interesseiro, falso, hipócrita, arrogante- a impostura e a presunção me ofendem fácil. No pequeno e feio cemitério, sem flores, sem lágrimas, sem um pingo de saudade, apodrecem uns tantos sujeitos, umas poucas mulheres, uns e outros varri da memória, retirei da vida. Encontro na rua um desses fantasmas, paro a conversar, escuto, correspondo às frases, ás saudações, aos elogios, aceito o abraço, o beijo fraterno de Judas. Sigo adiante, o tipo pensa que mais uma vez me enganou, mal sabe ele que está morto e enterrado."

Jorge Amado

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Tudo que me desejar de ruim baterá no peito e voltará em forma de Paz e Amor!

Retribuições à tudo que me escrever.
Beijo pra quem é de beijo.

♥)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...